Educação | 5 minutos de leitura

Como o modelo SAMR pode me ajudar a entender e aplicar melhor a tecnologia na sala de aula?

17 de November de 2019
Escrito por Guilherme Camargo
@guicamargo__

Desde o início de minha trajetória profissional na educação, participei dos principais projetos de tecnologia móvel do Brasil. E estando em projetos como estes, é importante entender que o uso das tecnologias se dá em níveis diferentes e é necessário entender seus respectivos contextos para uma melhor aplicação.

Uma das grandes ferramentas para entender este contexto é o modelo SAMR (Substituição, Aumento, Modificação e Redefinição). Não apenas instituições de ensino o utilizam, grandes empresas também fazem uso deste modelo como base para a integração das tecnologias na sala de aula.

Entender para aplicar

Ao longo do tempo, tenho observado que as tecnologias são muito melhor aplicadas quando os professores enxergam seu real valor. Um jeito fácil de observar este padrão, é o fato de instituições de ensino com perfis muito semelhantes (às vezes de um mesmo grupo) terem projetos tão diferentes, às vezes funcionando muito bem em um, enquanto no outro não apresenta resultados satisfatórios.

Para enxergar o valor das ferramentas, primeiramente se faz necessário entender os diferentes usos e, para entender estes usos, o modelo SAMR é de grande ajuda. Este modelo é utilizado para medir a integração da tecnologia na sala de aula e foi desenvolvido pelo Dr. Ruben R. Puentedura. O SAMR apresenta uma estrutura parecida com uma escada, desenhada para que toda a comunidade consiga identificar o nível de integração da tecnologia.

O SAMR tem como objetivo avaliar o impacto do mundo digital na educação por meio da análise das atividades e dos diferentes níveis de integração nestas tarefas.

Os dois primeiros níveis (Substituição e Aumento) sugerem que a tecnologia pode ser utilizada na sala de aula para realizar tarefas tradicionais com algum ganho nos processos de ensino e aprendizagem (exemplos a frente). Estes ganhos nos dois primeiros níveis não seriam possíveis sem a tecnologia.

Nos dois últimos níveis, a tarefa não mais a tradicional, ganha um novo significado e é modificada. A redefinição, por sua vez, existe quando os professores alcançam exatamente o objetivo desejado: estender o espaço de aprendizagem da sala de aula para o mundo.

Além de guiar o uso e identificar a inserção tecnológica no projeto, o modelo serve também para auxiliar os professores na identificação de sua própria evolução com relação ao uso das tecnologias em sala de aula.

Uso prático do SAMR

Para entender melhor o modelo, exemplifico cada nível de integração com exemplos práticos abaixo.

A atividade, neste caso, é uma atividade simples de pesquisa em livros com alunos do ensino fundamental II sobre o folclore brasileiro. Os alunos utilizarão o material pesquisado para escrever um resumo da história do folclore e em seguida discorrer sobre algum personagem específico.

Substituição

No lugar de pesquisar os livros e escrever em folhas de papel este resumo, os alunos digitam seu trabalho em um iPad ou em um MacBook.

Este é o primeiro nível do modelo. A atividade permanece a mesma, há apenas um ou outro pequeno ganho no uso da tecnologia. Ocorre de fato a substituição.

Aumento

No primeiro momento, os alunos iriam entregar o resumo ao professor e então concluir a atividade. O aumento ocorre quando a atividade apresenta algum ganho funcional. Neste nível, os alunos não vão mais simplesmente entregar a atividade, eles utilizarão os iPad para elaborar uma apresentação (Keynote) e espelhar sua tela no projetor da sala de aula para apresentar um seminário.

Modificação

A modificação ocorre quando a tecnologia é utilizada de maneira mais integrada com a atividade. Em uma apresentação de seminário há mudanças na atividade, porém as tarefas ainda são tradicionais.

Neste nível há de fato uma modificação na atividade. Os alunos não irão mais simplesmente desenvolver um keynote e apresentá-lo. Agora, modificando a atividade, os alunos desenvolverão um livro interativo utilizando o iBooks Author, inserindo imagens, gifs, vídeos, áudios, galeria de fotos e muitos outros recursos dentro de seu livro.

Redefinição

A redefinição por sua vez ocorre quando as paredes da sala de aula já não limitam mais o aprendizado. O mundo se tornou uma sala de aula e com alunos cada vez mais digitalizados, a atividade ganha novas perspectivas.

No último nível do modelo SAMR, os alunos aproveitam melhor sua produção. No lugar de simplesmente armazenar seu livro na biblioteca da escola (com sorte, quando o material é de fato aproveitado), o aluno publica este livro na iBooks Store (loja de livros da Apple) e o torna disponível para o mundo inteiro!

O SAMR não é uma escada

Apesar de cada nível corresponder a quão integrada a tecnologia está nas atividades em sala de aula, o modelo não deve ser entendido como uma escada a ser subida. O fim de cada atividade com dispositivos móveis é proporcionar uma melhoria nos processos de ensino e aprendizagem, que pode acontecer tanto com atividades mais tradicionais quanto com atividades totalmente redefinidas pela tecnologia.

Objetivo

No fim, o único objetivo de utilizar as tecnologias nas salas de aula é alcançar ganhos reais nos processos de ensino e aprendizagem, preparando nossos alunos cada vez mais para o mundo. Mas para que este objetivo seja alcançado, é necessário muito esforço e trabalho, como desenhar tarefas que possam trazer ganhos reais aos processos de ensino e aprendizagem e atividades que possibilitem um maior desenvolvimento cognitivo.

(Este artigo foi publicado originalmente no blog Objetos de Aprendizagem. Para ver o original, clique aqui.)